MULHERES NA ORTOPEDIA

     
 

Participação das ortopedistas no 54º CBOT

Dra. Glaucia Bordignon
Taubaté - SP
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O Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia (CBOT) deste ano teve um significado especial para a médica residente do primeiro ano Yasmim de Castro, presente pela primeira vez no evento. No texto abaixo, ela descreve sua experiência no encontro anual da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), que ocorreu em Florianópolis (SC) no final de novembro de 2022, bem como relata também suas percepções a respeito da especialidade que escolheu:

“O primeiro passo para a mudança é ter a iniciativa, valendo a redundância: dar o primeiro passo. Escolher o caminho da ortopedia sendo mulher não é fácil. Em uma especialidade dominada pelo gênero masculino, a mulher ortopedista está constantemente em posição de pioneirismo nos programas de residência e serviços cirúrgicos no país.

A inovação veio com Stella Rosenbaum, ortopedista desde 1971 e especialista de pé e tornozelo e fixador externo; sendo assim, o ingresso feminino estava apenas começando e exponencialmente aumentando. No último ano, o número de mulheres ortopedistas sócias da SBOT subiu 24,5%, de 545 em 2021 para 679 mulheres, em 2022. No 54º Congresso Anual da SBOT, 13% dos participantes eram mulheres.

Esse aumento e conquista pode ser atribuído a aquilo que nutre a prática médica desde o seu princípio: o exemplo de grandes mestres, mulheres inspiradoras, que vêm levando o nome da ortopedia brasileira mais longe. Essas que demonstraram no CBOT sua autoridade na ortopedia e traumatologia ao participarem de apresentação de palestras, mesas redondas, discussão de casos e condutas, apresentação de trabalhos científicos e partilha de experiências. Nesse cenário, é válido mencionar as admiráveis e ricas contribuições das especialistas em cirurgia do pé e tornozelo Janice Guimarães, Jordanna Bergamasco, Tania Szejnfeld Mann e Bárbara Pupim.

Vale ressaltar também que, na ocasião, houve mais espaço para discussão de temas relacionados às dificuldades e dúvidas enfrentadas pelas mulheres na ortopedia, inclusive na sessão de defesa profissional. Todos esses fatores vêm despertando o interesse pela especialidade em jovens médicas. Digo isso com propriedade, aconteceu comigo. Quando ingressei na residência estava ciente do desafio que enfrentaria em ser a primeira mulher aprovada no programa de residência médica do meu serviço.

Por muitos meses me faltou a sensação de pertencimento – era comum a equipe do hospital receber com estranheza uma mulher na ortopedia e não me reconhecer como cirurgiã ortopédica. As redes sociais me apresentaram a AMOB (Associação de Mulheres Ortopedistas do Brasil) e mulheres admiráveis que, cada uma à sua maneira, me influenciaram e mostraram que há sempre espaço para competência, excelência, comprometimento e inovação na medicina. Conhecer cada uma delas pessoalmente no congresso me deu a sensação de acolhimento. Isso ocorre independentemente da área escolhida, do contingente e da divisão por sexos biológicos: a medicina é sempre pelo paciente e para o paciente e, quem assume o compromisso com ela, deve optar pela beneficência e boa prática, seja homem ou mulher.

Esse deve ser sempre o combustível para enfrentar cada desafio, incluindo o preconceito, se houver. E foi assim que, conhecer tantas mulheres inspiradoras durante o 54º CBOT, referências em suas áreas, me fez perceber, mais uma vez e de maneira definitiva, que eu não precisava pertencer. A partir do momento em que eu escolhi a ortopedia e a traumatologia eu já pertencia. Vamos em frente, conquistando cada vez mais o nosso espaço e reconhecimento na especialidade.

 

(1) TÂNIA SZEJNFELD MANN E YASMIM DE CASTRO NO ALMOÇO DAS MULHERES ORTOPEDISTAS DO 54º CBOT.

(2) JORDANNA BERGAMASCO DURANTE A SUA APRESENTAÇÃO NO DIA DA ESPECIALIDADE DO 54º CBOT.

(3) JANICE GUIMARÃES E BÁRBARA PUPIM NA MESA REDONDA MODERNA DO 54º CBOT.